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Artistas e especialistas mostram preocupação com a saúde em possível retomada aos shows

É evidente que tanto o público quanto os profissionais do entretenimento querem o retorno dos eventos e shows pelo o país, paralisados desde o mês de março em razão da pandemia do coronavírus. Mas, o que todos eles têm em comum é a insegurança quanto a essa possível volta e a forma que ela seria. De acordo com as entrevistas feitas pelo o Almanaque Sertanejo, em matérias anteriores, os contratantes, e principalmente o público, externaram muitas incertezas. Essa sensação também é compartilhada pela maioria dos artistas que o Almanaque Sertanejo entrevistou. Tentamos contato com outros artistas, por e-mail ou pelo aplicativo WhatsApp, que preferiram não manifestar suas opiniões, ou não responder nossas solicitações, até o fechamento desta matéria.


Por concentrar grande público, o setor do entretenimento foi o primeiro a parar, e de acordo com os especialistas da ciência e medicina provavelmente será o último a ter a sua retomada em um “novo normal”. Todos os eventos e shows que causam aglomerações de público foram cancelados, seguindo orientações da Organização Mundial de Saúde, como uma forma de conter a disseminação. Com isso, artistas, músicos, proprietários de casas de shows e eventos, além de milhares de profissionais informais ficaram sem nenhuma fonte de renda. Segundo especialistas da ciência e medicina, ainda sem uma vacina ou algum remédio eficiente para combater a doença, a única alternativa, até o momento, para que não aumente o número de infectados, e consequentemente de mortes, é o distanciamento social.


A cantora Adriana Sanchez, da banda Barra da Saia, relata a importância do artista na sociedade, se mostra reflexiva e empática em relação não apenas a sua saúde, mas, a do próximo. “Como artista a minha primeira preocupação sinceramente é com o bem-estar e com a vida dos meus fãs e do meu público. Sempre procurei ter um posicionamento que leve segurança, consciência, saúde e respeito a todos que me acompanham (fãs e pessoas que trabalham comigo). Antes mesmo da pandemia, a cada subida ao palco, eu sempre estive atenta ao que acontecia na plateia, uma briga, um cadeirante precisando de ajuda, alguém perdido. Nesse momento, não passa pela minha cabeça fazer um show presencial, mesmo que algum contratante solicitasse, porque sei que isso colocará muitas vidas em risco e nessa decisão não pesa comprometer minha marca, mas sim comprometer minhas convicções humanas. No público, temos sempre pessoas idosas, com algum tipo de doença e apesar dessa parada nos shows impactar fortemente no lado financeiro, se eu não tiver empatia, amor pelos meus fãs e pelas pessoas que me cercam profissionalmente, que artista serei eu? Que mensagem eu estarei passando em quem acredita e confia em mim?”.


Adriana Sanchez também entende que a retomada dos eventos, mesmo que de forma gradual, não será tão rápida, e até sugere uma nova forma para a realização de shows. “Acredito que os shows com grande público vão demorar a voltar, terão que ser recriados com outras características e espaços adaptados, por exemplo, como um drive thru. Isso já está acontecendo na Alemanha, onde teatros estão com as cadeiras adaptadas com grande distanciamento e já aconteceu um evento em espaço aberto e com DJ, mas com cada um dentro do seu carro. O artista que colocar o ganho financeiro acima da importância de ser consciente nesse momento tem grandes chances de perder sua carreira em médio prazo”.


Zé Neto & Cristiano são um dos artistas mais queridos da música sertaneja. A dupla se apresenta praticamente em todos os cantos do Brasil. Cientes das dificuldades de estabelecer um “novo normal” para o mercado de entretenimento, eles acreditam que toda essa situação da pandemia fará que a população de todo o mundo sairá mais forte. “Haverá mudanças no meio artístico de fato. Acreditamos que nós seremos um dos últimos a voltar a rotina, não temos nada concreto ainda, a cada dia que passa vamos nos atualizando das informações e criando novas estratégias com o nosso escritório. O que mais queremos é voltar para as estradas, ver e sentir o carinho dos nossos fãs… Pelo amor de Deus, você não imagina a saudade que estamos das casas de shows lotadas, todo mundo cantando junto… Temos muita fé, logo, logo, estaremos todos juntos. O mais importante nesse momento é pensarmos no próximo, e que de alguma maneira sairemos dessa mais fortalecidos”.


O cantor Wagner Barreto ficou conhecido, em 2016, após vencer a primeira edição do reality musical The Voice Kids, da Rede Globo. Ele acredita que o retorno dos grandes eventos, no momento, é improvável, mas, defende, com prudência, a volta de shows em ambientes menores. “Acredito que todos os artistas estão sofrendo muito financeiramente devido a termos sido os primeiros a parar de trabalhar. Acredito que os grandes eventos só voltarão a partir do momento que for criada uma vacina, até pela dificuldade de atender todas as normas de saúde e pela insegurança das pessoas em irem aos grandes eventos. Mas, os eventos menores têm que ir retornando, barzinhos, pequenas casas que podem colocar o show e autorizar somente mesas para no máximo quatro pessoas, por exemplo. Uma pequena casa que comporta colocar 20 mesas e manter a distância entre todos, palco com uma distância considerável, os funcionários devidamente equipados com suas proteções seria totalmente possível, além de ir voltando a gerar confiança, empregos, rentabilizações para a casa, ainda que não sejam valores que estão acostumados com as lotações, mas é o novo jeito de se fazer eventos, pelo menos nesse momento. É uma questão de conscientização das pessoas também, não é porque está liberado para ir em barzinhos, que as pessoas têm que voltar a agir normalmente como se nada tivesse acontecido, temos que continuar nos cuidando e preservando uns aos outros”.


Em mais de 20 anos de carreira, João Bosco & Vinícius colecionam apresentações nas maiores casas de shows e festas do Brasil. Esperançosos, eles acreditam na retomada dos shows, porém, não imediatamente. “Acreditamos que este momento vai acontecer, não acho que seja agora. Seremos o último setor a voltar aos trabalhos, só que também não dá para deixar esta possibilidade de lado, uma hora vamos ter que voltar. Ainda não sabemos quando voltaremos, tudo depende muito. É difícil falar de um retorno as atividades neste momento, acredito que quando for a hora vai acontecer”.


O cantor Alex Fava se mostra bastante cauteloso e não é favor da volta aos shows, sem uma vacina ou medicamento eficiente. “Não sou favorável a qualquer aglomeração de pessoas antes de termos um medicamente eficaz ou a vacina, precisamos ficar alertas as informações reais sobre o tema, evitar as fake news que nesse momento se fazem muito presentes, e apesar de toda crise econômica que pegou diretamente o meio artístico e muitos outros segmentos, temos que ter consciência e seguirmos as orientações da Organização Mundial de Saúde. Este momento podemos utilizar com criatividade as redes sociais, para estarmos perto do nosso público, além de aproveitarmos esse tempo para compor e ter ideias para o retorno. Minha preocupação não é com a minha imagem nesse momento, e sim com as pessoas”.


Com 45 anos de carreira, Matogrosso & Mathias já passaram por muitas histórias nesta vida, mas, nenhuma delas parecida como esta pandemia. A dupla mostra cautela com o atual momento. “Essa semana (26 de maio) demos uma entrevista para o portal R7 falando um pouco sobre isso. É um momento onde precisamos estar com o cuidado redobrado. Ainda é cedo para fazer qualquer tipo de comentário e expor uma opinião formada. Tudo é novo para a gente. É um processo de aprendizado sob todas as coisas, de live até possivelmente shows”.


Com apenas um ano de carreira, os cantores e compositores Vitor & Cadu representam a nova geração da música sertaneja da cidade de Campo Grande, no Estado do Mato Grosso do Sul. Eles não são favoráveis ao retorno dos shows, sem uma medicação eficiente. “Somos contrários a realização dos shows antes de qualquer solução, recomendação e aprovação dos órgãos de saúde. Priorizamos a saúde do nosso público e equipe sempre; e estamos torcendo muito para que encontrem logo alguma solução, seja vacina, medicação, ou alguma forma de erradicar o vírus ou diminuir a forma de contágio, assim todos podem curtir um show novamente sem medo de ficar doente”.


Em 16 anos de carreira, Bruno di Marco & Cristiano já se apresentaram em conceituadas casas de shows e festas agropecuárias por todo o Brasil. A dupla é contra a realização de shows, neste momento. “Tudo a respeito dessa doença ainda é novidade. Eu acho que o momento agora é de pensar na saúde de todos enquanto não se descobre a vacina. Apesar de eu não concordar com várias atitudes e achar que estão usando de uma pandemia para se promover, fazer politicagem e querer tirar credibilidade do governo atual, acho que algumas medidas precisam ser tomadas sim, mas, da forma que vinham acontecendo não concordo. Shows e grandes aglomerações, na minha opinião, e mesmo eu dependendo disso, acho que no momento não seria prudente a realização, mesmo sabendo que muitas famílias e profissionais dependem direta e indiretamente”.


A dupla Edson & Hudson não vê a hora de poder retornar aos palcos e sentir o calor e a energia do público, claro, respeitando todas as possíveis orientações. “Semana passada (19 de maio) a Veja publicou uma matéria sobre um show que já aconteceu nos Estados Unidos. Lógico, com todas as adequações possíveis e atendendo as normas exigidas. A apresentação aconteceu e foi um sucesso. A gente precisa entender um pouco mais sobre para poder falar com exatidão. Cada país tem uma realidade diferente. A única coisa que não cansamos de dizer é sobre a nossa vontade de voltar a fazer shows. Para o artista, estar longe dos palcos é bem complicado”. A matéria que Edson se refere é sobre o show de Travis McCready, da banda Bishop Gunn. O evento foi realizado na cidade de Fort Smith, na casa de shows TempleLive, com capacidade para 1.000 pessoas. A apresentação teve 200 ingressos vendidos, que custaram 12 dólares cada. Logo na entrada, mediu-se a temperatura de todo o público, que só pôde entrar usando máscaras de proteção. Lá dentro, foram dispostas dezenas de frascos de álcool em gel e os assentos eram demarcados.


ESPECIALISTAS DA MÚSICA SERTANEJA O Almanaque Sertanejo também entrevistou importantes formadores de opinião da música sertaneja. Além de não ser favoráveis a um retorno imediato dos grandes eventos, sem uma medicação e de medidas de segurança eficiente, eles também acreditam que valores e parcerias precisarão ser revisadas para que seja possível a realização de grandes shows em um “novo normal”.


Para o jornalista André Piunti, proprietário do blog Universo Sertanejo e redator de programas da Rede Globo, dificilmente os eventos que concentram grandes públicos irão retornar, sem uma vacina ou alguma medicação eficiente. “Sem vacina, medicamento ou algum enfraquecimento do vírus, por qualquer que seja o motivo, não vai ter como retornar aos shows ou aos eventos com muita gente reunia. Ninguém quer seu nome ou sua marca envolvida em polêmicas, ainda mais em um momento delicado como o de hoje. Sobre “fechar a conta”, depende de todas as partes envolvidas no evento. Se todos toparem reduzir seus custos, tem como funcionar, mas não dá para obrigar alguém a fazer isso”.


Elder Fernandes, do blog Sertanejo Top, também é radialista, e não acredita que seja inteligente o retorno dos eventos no atual cenário. “Neste momento não sou a favor da volta dos shows. O público não tomaria as devidas precauções, e o contratante não teria condições de ser o responsável por milhares de pessoas. Além disso, um evento reduzido, a conta no final não iria fechar, uma vez que os contratantes teriam mais gastos com estruturas com possíveis normas e exigências que seriam necessárias”.


Marcão, respeitado formador de opinião e proprietário do Blognejo, é contra a retomada dos eventos, se os números de contaminações e mortes não pararem de subir. “Sou contra, neste momento, caso os números não regridam. Sou contra, parcialmente, até mesmo a realização das lives, se não tiver cautela e segurança. É muito utópico que o público saiba se comportar em uma situação como esta. Mesmo com todas as orientações das organizações da saúde, não acredito em uma reação positiva do público. E, a partir de agora, grandes eventos para acontecer também precisam se adaptar a uma nova realidade de valores e parcerias. Não vai ser possível trabalhar nos mesmos moldes que trabalhavam antes”.

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